terça-feira, 26 de junho de 2007

A língua que me corrompe a carne
é a mesma língua que suga teu gosto,
veneno doce de perigo ácido,
faz derreter sensações
suspendendo o pensamento em palavras corrosivas,
no olho de tempos perdidos.

A língua, assim como o indomável,
quer transgredir o limite de espaços e tempos,
e curiosa quer descobrir na carne
o objeto de sua existência.

Inúteis palavras que não satisfazem
o desejo de uma língua inquieta,
ansiosa para experimentar
suas habilidades entre parênteses,
na vertigem de corpos em transe.

Na ponta da língua,
um fio de lâmina se esconde,
afiado entre limalhas salivas e secretos sussurros...
...epiderme nenhuma esta à salvo,
desta língua rubra, voraz e desfibrante,
que faz de seu objeto
a vítima sempre caprichosa
de seus desejos mais penetrantes.

Em cada poro da língua,
Centelhas de brasas é possível avistar,
Lavas salivas começam a brotar,
fundindo a pele mais doce
e transformando-a em mel escaldante...

No toque ardente da língua,
o corpo inteiro vibra a corrente de líquidos poros,
docemente melados sentimos a fusão de peles,
na carne o brasão da língua apenas insinua seu território,
marcados tão somente por uma língua de fogo,
entregamos nossas peles
aos vapores suspiros mais incandescentes...

Na chama da língua,
o fogo incendeia desejos (in)contidos,
num fogo que consome e é consumido.

cortaruas, Desterro, 30 de outubro de 2002.

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