terça-feira, 26 de junho de 2007

Desterrado de mim,
em areias úmidas e desertas,
naquela praia sem nome, esguia e cheia de passagens secretas,
de ventos desafiadores e pedras costeiras,
eternas companheiras das rebentações salinas;
qual mar denso de espumas etéreas,
que fará o horizonte marinho de encarnações espessas?...

Esparso de mim,
em descarnados lençóis de azul celeste,
fitando alto o manto infinito de esperança estrelar;
especulando planetas remotos e sonhos distantes,
sob a violeta aurora que anuncia um dia escaldante...

Disperso de mim,
em passos marcados de um caminho incerto,
no movimento inconstante do receio e do furor,
da vontade e da recusa, da perda e do amor...
com os pés molhados de águas escaldantes,
experimento a aventura de pescadores distantes,
me lanço alto mar a procura de uma amante,
na busca enigmática do encontro entre dois semblantes...

...quando este dia chegar,
quero ter a certeza que este amor,
seja tão voluptuoso, ardente e delirante,
quanto estás águas rubras, densas e ondulantes...

Mareado de mim,
Com tantas voltas desconcertantes
De dias calados sobre correntes precipitantes...

(...tal viagem ainda incerta,
não existe cartografia definida
e nem porto de espera...)

Espumado de mim,
em estado gasoso dos mares sem fim,
volatilizando suspiros das tantas sereias esquecidas,
dos tantos náufragos anônimos,
e das tantas ilhas perdidas...

À deriva de mim
En la melancólica noche de luna llena,
De la nave va,
De los sueños vano,
Y de la muerte/vida, quizá...

Afogado de mim,
Solito no más,
Abraçado apenas no sorriso irônico da âncora já sem corrente,
Dos dias já sem presente...

No profundo abismo de águas submarinas,
Quando nada e tudo se perde e se afoga,
No fundo desprovido de segredos de luz,
Sem amante ou quaisquer sereias esquecidas,
Empedernidas,
Do fundo já sem fundo,
Sem náufragos anônimos ou tesouros perdidos,
Lá,...
Esquecido de mim, esquecido de todos,
pousado na superfície funda das areias escuras e dos sentimentos extintos,...
...numa estrela de mar, de terra e de fogo
irei me transformar,
mas, por favor,
não me encontrem,
pois submerso quero ficar...
(sabe-se lá, se as pontas de minha estrela poderão lhe machucar)

cortaruas, Desterro, 05 de março de 2007.

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