domingo, 5 de agosto de 2007

Mímicos do apocalipse

1.

Esse som alquebrante
O branco esta fugindo de mim
O barco está rugindo no mar
O arco está urgindo no ar
A flauta está mugindo
Muito aliterante
Ali errante
Berrante
Beirando
o abismo
sobre o mar
bramante
no azul manto
em líquido canto...

2.

...ah, o choro do vento,
o suspiro do pássaro,
na marca do rastro
que na fugidia sinuosidade de seu traço
esqueceu seu laço,
com todos seus compassos
e abraços desbotados
na amargura de dias cansados.
Em líquido canto
as ondas dos dias
de areias salinas
e gostos sentidos
de tardes vermelhas
no horizonte dos idílios...

3.

...oito pássaros se recolhem
a terra abre oito ventres
e dentro deles nascem filhos
já armados de sentidos
oito escudos indecisos
e uma penosa arma laminada
na divisão de dois quadrados
resgatando os naufragados
dos interesses submersos
dos trompetes químicos
cômicos
cínicos
mímicos do apocalipse...

Alice Casanova, Luciano Ruas e Daniel Gomes
Casinha/Santo Antônio de Lisboa/Desterro, setembro de 2002.

2 comentários:

Alice Casanova disse...

Oi, Lu!

Adorei reencontrar essa esquecida poesia presentificada no seu blog e também rever suas esculturas, imagens cujas linhas e formas delineiam espaços de possibilidades, contornando a dor e o deleite.

beijos
Alice

Daniel Gomes disse...

Cortaruas,
Donc: garrafa de champanha quebrada navegou por um mar também quebrado e cortante. Dentro dela, coroada, esta experiencia de três cabeças, como algumas esculturas cobradas...
Enfim, um pequeno destino cumprido neste blog.