domingo, 5 de agosto de 2007

Fragmentos oníricos de uma viagem cósmica (para ler ouvindo Clair de Lune, de Claude Debussy)

...os monstros são belos, por mais assustadores que pareçam...

(...)

...Pessoa veio e me disse: “Trago em mim a palavra do desígnio morto. Fui como ervas e não me arrancaram”...

(...)

...chora mulher, chora tudo, chora até o que não tem...

(...)

...amamos o outro porque amamos a nossa dor...

(...)

...mas não fala, eles podem nos ouvir...

(...)

...memória de infância:...
...o segredo do menino era brincar de se esconder...
...e, quantos sustos ele pregou na parede...
...mas, o que ele mais gostava de fazer era fogo...
...sua alegria foi total quando conseguiu transformar-se em chama...

(...)

...escreve na minha lápide:
as borboletas deixaram de ser crisálidas...

(...)

...silêncio, eles podem nos ouvir...

(...)

...não precisa dizer mais nada, deixe que os grilos contem o resto...

(...)

...encontrar uma palavra não é fácil, por isso quando a encontrares, guarde-a com amor dentro de si depois de imantá-la com o véu sagrado do sentido...

(...)

...Barros, encontrei o “menino de ontem me plange”,
era uma menina,
sua profissão: prostituta...

(...)

...trabalhar com sentimentos humanos me atrapalham...

(...)

...o nada também me pertence Manoel...

(...)

...matamos nossa amizade e agora choramos sozinho...

(...)

...e o mundo caiu sobre nós como um raio partido...

(...)

...coragem, vai e domestica teus monstros...

(...)

... e depois dessa curta viagem pelo tempo da humanidade,
depois de deitar na posição fetal,
momento em que tudo se atravessou dentro mim,
todas as alegrias e tristezas do meu pequeno mundo,
eu derramei a lágrima universal,
e não tive vergonha,
porque estava com irmãos que acabara de fazer...
e a força pulsava dentro do meu estômago,
sentia a energia vibrar e já meu corpo não era suficiente...
e foi ali no muro das lamentações,
que o vômito cósmico inundou meu coração...

(...)

...tomei uma decisão, meu contrato social será este: desaparecer...

(...)

...mas fale baixo, eles podem nos ouvir...



cortaruas, São Paulo, 4 de agosto de 2007.
(dedicado aos irmãos do Comunindios, muito obrigado pela acolhida)

Um comentário:

Ana disse...

Uau!: "...encontrar uma palavra não é fácil, por isso quando a encontrares, guarde-a com amor dentro de si depois de imantá-la com o véu sagrado do sentido..."

E já plagiei esta: ...coragem, vai e domestica teus monstros...

Isso foi na borracheira?